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15 setembro 2006

SERTANEJO

Sou eu, mais um sertanejo
De corpo, alma e coragem
Nasci com o signo da seca
Na cama da estiagem
Esse misto de alegria
Pudor e melancolia
No brilho do meu olhar
Condiz com a realidade
De um matuto na cidade
Tentando poetizar

Bebi das águas salobras
Das cacimbas do sertão
Onde a cabocla se banha
E o cheiro fica no chão
E a tardinha sem receios
Aquece com os lindos seios
A moldura da janela
E, sobre o palco da rua
Fica bem mais bela a lua
Depois que avista ela

Onde o rio enfrenta as curvas
Quando bota uma enchente
Enroscado em um lajedo
Igual a uma serpente
Onde a nuvem sobre a serra
Chora com pena da terra
Que com fartura responde
E a fome foge pro além
E por algum tempo ninguém
Descobre onde ela se esconde

Cresci correndo na mata
Roubando a sua essência
E num cavalo de pau
Galopou minha inocência
Minha infância sem defeito
Fez um baú do meu peito
Guardando os segredos meus
Onde eu, museu de lembranças
Quebrei juras e alianças
Promessas que fiz a Deus

Sou qual faca de ferreiro
De matuto cortar palma
Enchendo o bucho das reses
E de espinhos minh’alma
Sou a força da garganta
Do violeiro que canta
Lindas canções de amor
A bem da humanidade
Mas ninguém sabe a metade
Do que ele sente de dor

Trago a força e o sacrifício
Da fé de um penitente
E os calos, que o destino
Coloca nas mãos da gente
Trago o vigor da criança
E a folha da esperança
Verde, um tanto emurchecida
Trago uma carga de escombros
E os anos, ferindo os ombros
Pelas escarpas da vida

Carrego a ardente sina
De um roceiro frustrado,
Que planta toda a riqueza
E a perde em um só roçado.
Ou de um velhinho cansado
Pelo destino escorado
Fazendo as curvas da idade,
Que uma nuvem sombreada
Tira da vista embaçada
Gotas de sangue e saudade

A aurora dos meus dias
Em mim inda permanece
Eu avistando o crepúsculo
Como quem faz a ultima prece
Meu corpo abrindo falência
No teatro da existência
Na cena que leva ao fim
Quando as luzes se apagarem
E as cortinas se fecharem
Quem se lembrará de mim ?

Do livro "ALMA SERTANEJA"