O sol se desdobra por cima da serra Rasga-se a cortina de luz no horizonte E as valas do rio se vistas da ponte Parecem trincheiras de um campo de guerra. A cabra sem força caída inda berra Vendo seu cabrito morrer sem mamar, Coivara de bichos lançam pelo ar, Fumaça dos restos mortais no nordeste Eximindo a terra dos riscos da peste Que leva temores pra beira do mar.
Com a cinza da seca nos dias tristonhos O céu perde as cores aos olhos do mundo, Açude e lagoa, com rachões no fundo São fendas funéreas, sepulcro de sonhos. Ossadas ladrilham, os vales medonhos O chão desidrata, causando pesar O uivo do vento parece gritar Com a dor das feridas do nosso sertão Retalhando as vidas que há sobre o chão Dentro das caatingas distantes do mar.
De longe o mormaço no chão mais parece O corpo da terra fritando e gemendo, Oscila a imagem, treme parecendo Que até as pedras tão fazendo prece. Clama-se por chuva, que não aparece Até mesmo pranto parece faltar, Aves quando cantam, cantam com pesar A saga de um povo e o seu triste destino Que resiste as secas do chão nordestino Distante das matas que cercam o mar.
Vejo um sertanejo partir sem transporte Tangendo um cachorro fiel companheiro, Rompendo a fronteira do próprio terreiro Sem rumo traçado mirando na sorte. Seguido de perto, pela própria morte Vai cambaleando temendo parar Não encontra sombra para repousar Aves de rapina o agouram no espaço É a fé e a seca na queda de braço Nada parecidos com a beira do mar.