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18 maio 2012

 

 

Seca

O sol se desdobra por cima da serra

Rasga-se a cortina de luz no horizonte
E as valas do rio se vistas da ponte
Parecem trincheiras de um campo de guerra.
A cabra sem força caída inda berra
Vendo seu cabrito morrer sem mamar,
Coivara de bichos lançam pelo ar,
Fumaça dos restos mortais no nordeste
Eximindo a terra dos riscos da peste
Que leva temores pra beira do mar.


Com a cinza da seca nos dias tristonhos
O céu perde as cores aos olhos do mundo,
Açude e lagoa, com rachões no fundo
São fendas funéreas, sepulcro de sonhos.
Ossadas ladrilham, os vales medonhos
O chão desidrata, causando pesar
O uivo do vento parece gritar
Com a dor das feridas do nosso sertão
Retalhando as vidas que há sobre o chão
Dentro das caatingas distantes do mar.


De longe o mormaço no chão mais parece
O corpo da terra fritando e gemendo,
Oscila a imagem, treme parecendo
Que até as pedras tão fazendo prece.
Clama-se por chuva, que não aparece
Até mesmo pranto parece faltar,
Aves quando cantam, cantam com pesar
A saga de um povo e o seu triste destino
Que resiste as secas do chão nordestino
Distante das matas que cercam o mar.


Vejo um sertanejo partir sem transporte
Tangendo um cachorro fiel companheiro,
Rompendo a fronteira do próprio terreiro
Sem rumo traçado mirando na sorte.
Seguido de perto, pela própria morte
Vai cambaleando temendo parar
Não encontra sombra para repousar
Aves de rapina o agouram no espaço
É a fé e a seca na queda de braço
Nada parecidos com a beira do mar.


Lima Júnior