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09 novembro 2006

AS MAIS RECENTES DO POETA

SONETO

Num tristonho misto de riso e de pranto
Onde a luz e a treva mudam a todo instante
Meu peito em festa num infernal encanto
Te faz como anjo, e eu demônio infante

Rendido a inconstância de um ser errante
Vítima e condenado de um romance santo
Verto o sangue em pranto e desfaleço enquanto
Assassino em mim o teu louco amante

Quando eu renascer... No meu paraíso
Irei à procura do teu lindo riso
Mesmo que isso custe irei até o fim

Sabendo que só te encontrarei no inferno
Eu irei fazer-te um juramento eterno
Porque és o inferno que existe em mim



A PARTE QUE ILUMINOU

( tema dado para glosa do poeta Louro do Pajeú)
Mas as estrofes que seguem são minhas.

Uma moça desfilava
Com outras moças na praça
Ouvindo psius e graças
Tadinha nem esperava
Mas o vento que passava
Chegou por baixo e soprou
Seu vestido levantou
Mostrando o tesouro seu
Depois baixou e escondeu
A PARTE QUE ILUMINOU

Ela – o sol da minha vida
Me fez tarde de domingo
Mas logo veio o respingo
Da chuva da despedida
O vendaval da partida
Não a trouxe mas levou
O seu olhar ofuscou
Tirando o brilho do meu
Foi assim que escureceu
A PARTE QUE ILUMINOU


Eu náufrago dos sentimentos
No mar bravio da esperança
Você chegou brisa mansa
Me aquietando os tormentos
Resgatou-me deu-me alentos
Mas soprou meu coração
O ciclone da paixão
Lançou-me onde o mar desmaia
Findei morrendo na praia
Na chuva da ilusão


SONETO

Morte , moça perversa desalmada
Prostituta das almas suicidas
Sedutora dos almas desvalidas
Transvestida em ventura aventurada

Quando vens de perigo... a tudo agrada
Quando vens desnudada , invalidas
De surpresa a quem mais intimidas
Mas não sei se tu perdes emboscada...

Tento sempre cortar caminho ao ver-te
Eu só quero um dia conhecer-te
Quando a vida trair-me com a idade

Aí sim, poderei deitar contigo!
Se pra matéria, morrer é um castigo
Para alma, é nascer pra eternidade.

29 setembro 2006

TROVAS

Trovas

O amor é um oceano
Nos continentes da alma
Quando revolto - é tirano
Quando manso - nos acalma
™˜
No fundo dos olhos meus
Há uma fonte de pranto
Que jorra sempre que canto
Lembrando dos olhos teus
™˜
Teu beijo me foi negado
Antes de ser prometido
Foi bem melhor não ter dado
Do que ter dado e traído

™˜
Tua boca é droga forte
Que me deixa entorpecido
Se fosse a droga da morte
Eu já teria morrido
™˜
Bom é acordar bem cedo
Coberto pelo desejo
E ouvir mais um segredo
Contado pelo teu beijo
™˜
Nenhuma dor é tão forte
Quanto a da lágrima vertida
Depois de lançada a sorte
Na hora da despedida
™˜
Minha vida foi escrita
Em quatro linhas no chão
Duas de perspectivas
E duas de superação.
™˜

Nem todos os sonhos são
Em vida realizados
Mas o sorriso é aprova
Dos muitos executados
™˜
Partilhemos com todos nosso amor
Se preciso choremos lado a lado
Que uma dor partilhada é meia dor
Partilhar alegria é rir dobrado
™˜
Soprei a mágoa retida
Sobre os cristais da lembrança
Cobri os cacos da vida
Com lençóis de esperança
™˜
Na vida há trevas e luz
Como há flor e espinho
Pior que o peso da cruz
São as pedras do caminho
™˜
O barco da vida vai
Por rota desconhecida
E a rota do barco atrai
Todo o sentido da vida
™˜
Pela força da essência
O olhar de uma criança
Revela com inocência
Mil traços de esperança
™˜
Aos diabos com o seu sermão
Os seus rótulos e o seu pensar
É justamente por ser homem
Que tomo a liberdade de chorar.
™˜
Não se geme a dor alheia
Por isso é que ninguém sente
Por quem vai dormir sem ceia
Ou por quem perde um parente
™˜
Tristonha é a dor sentida
Sem cura por medicina
É a angustia engolindo vida
E a vida engolindo a sina
™˜
Vou virar a taça do amor medonho
Pra não ser tragado pelo mesmo vinho
Que me deu um sonho e me largou sozinho
E me fez tragado pelo mesmo sonho
™˜
A madrugada parece
Quando a lua está ausente
O tempo que arrefece
O sol da vida da gente
™˜
Este teu beijo ofertado
Neste sorriso sereno
Quase me mata engasgado
Com gotas do teu veneno
™˜
Eu quero por às avessas
Teu coração frente ao meu
Pra ver se acho vestígios
Do meu por dentro do teu
™˜

Carne e Unha



Carne e Unha

Conhecemo-nos na praça
Fizemos a mesma jura
Temos a mesma loucura
Brindamos com a mesma taça
Um do outro achando graça
Um disse: - Quer?, o outro: - Sim.
Foi bom pra ela e pra mim
Tornamo-nos carne e unha
E Deus se fez testemunha
De nossa história sem fim

Durmo sempre ao lado dela
Ela dorme do meu lado
Quando meu sono é pesado
Sou vigiado por ela
Se enquanto meu sono vela
Surpreendida ela for
Dormirá sem cobertor
Por cima do corpo meu
E eu por baixo do seu
Sonhando com nosso amor

Acordamos bem juntinhos
Com nossos rostos colados
Os braços entrelaçados
E os nossos corpos quentinhos
Beijos, abraços, carinhos
Minha mão na sua mão
Promessas em oração
Um é pedra o outro é lodo
Somos metades de um todo
Partes de um só coração

Quando um se faz ausente
A saudade irradia
Pensamos em sintonia
Pra pormo-nos frente a frente
E como ímã potente
O destino faz a linha
A distância se definha
Vamos parar na capela
Eu prometendo ser dela
Ela jurando ser minha

Vivemos tão envolvidos
Tão grande é nossa amizade
Que é dupla a felicidade
E os sonhos são divididos
Estamos tão parecidos
Em gestos e pensamentos
Dividindo sofrimentos
Partilhando alegrias
Fazendo dos tristes dias
Muitos alegres momentos

Que dure eternamente
Toda a nossa meninice
Sem nenhum disse me disse
Nenhum ato inconsciente
Fortaleçamos somente
Num esforço em desmedida
Juntos em nossa guarida
Envelheçamos na glória
Escrevendo a nossa história
No livro histórico da vida.

15 setembro 2006

SERTANEJO

Sou eu, mais um sertanejo
De corpo, alma e coragem
Nasci com o signo da seca
Na cama da estiagem
Esse misto de alegria
Pudor e melancolia
No brilho do meu olhar
Condiz com a realidade
De um matuto na cidade
Tentando poetizar

Bebi das águas salobras
Das cacimbas do sertão
Onde a cabocla se banha
E o cheiro fica no chão
E a tardinha sem receios
Aquece com os lindos seios
A moldura da janela
E, sobre o palco da rua
Fica bem mais bela a lua
Depois que avista ela

Onde o rio enfrenta as curvas
Quando bota uma enchente
Enroscado em um lajedo
Igual a uma serpente
Onde a nuvem sobre a serra
Chora com pena da terra
Que com fartura responde
E a fome foge pro além
E por algum tempo ninguém
Descobre onde ela se esconde

Cresci correndo na mata
Roubando a sua essência
E num cavalo de pau
Galopou minha inocência
Minha infância sem defeito
Fez um baú do meu peito
Guardando os segredos meus
Onde eu, museu de lembranças
Quebrei juras e alianças
Promessas que fiz a Deus

Sou qual faca de ferreiro
De matuto cortar palma
Enchendo o bucho das reses
E de espinhos minh’alma
Sou a força da garganta
Do violeiro que canta
Lindas canções de amor
A bem da humanidade
Mas ninguém sabe a metade
Do que ele sente de dor

Trago a força e o sacrifício
Da fé de um penitente
E os calos, que o destino
Coloca nas mãos da gente
Trago o vigor da criança
E a folha da esperança
Verde, um tanto emurchecida
Trago uma carga de escombros
E os anos, ferindo os ombros
Pelas escarpas da vida

Carrego a ardente sina
De um roceiro frustrado,
Que planta toda a riqueza
E a perde em um só roçado.
Ou de um velhinho cansado
Pelo destino escorado
Fazendo as curvas da idade,
Que uma nuvem sombreada
Tira da vista embaçada
Gotas de sangue e saudade

A aurora dos meus dias
Em mim inda permanece
Eu avistando o crepúsculo
Como quem faz a ultima prece
Meu corpo abrindo falência
No teatro da existência
Na cena que leva ao fim
Quando as luzes se apagarem
E as cortinas se fecharem
Quem se lembrará de mim ?

Do livro "ALMA SERTANEJA"