Eu segui uma estrela que no céu Me guiou pelos becos da cidade, Me fazendo enxergar a realidade De esquecidas pessoas, tudo ao léu! A fumaça das drogas era o véu Que vestia a penumbra masmorral, E seus restos de vidas sobre o sal Do sobejo das ceias agendadas, Dos esquecem Jesus pelas calçadas Mas celebram a noite de Natal!
Os frangalhos de sonhos e ilusões Com os trapos das roupas, confundidos, O odor dos prazeres distorcidos Misturados às cinzas dos porões. Aves livres, à beira de alçapões Onde a isca é a própria crueldade, Onde a treva em que vive lhe invade Quando o que mais almeja é ter a luz, Mas o expulsam da festa de Jesus Feito restos mortais da humanidade.
A sarjeta tornou-se o lar sublime Dos que se irmanaram pela rua, Onde o teto é o céu e a luz a lua Pela força mordaz de vil regime. O diploma exibido é o do crime, Ser temido é a qualificação, Foi criança, sonhou, mas a razão Que a vida lhe impôs foi crucial. Enxotado das festas de Natal, Como crê que Jesus é seu irmão?
Carne em chagas, exposta ao sal do pranto Pela cruz que só ele é quem enxerga, A matéria sofrida que se enverga Pra caber pra dormir, em qualquer canto. Sua fé dirigida a qualquer santo Que lhe possa servir de talismã. No Natal bate a porta de uma “irmã” Que na mesa da ceia, ouve somente: - Por Jesus, dê-me um pão, sou indigente! E a resposta que tem: - Passe amanhã!